COMO  ATIRAR  EM  MONTARIA


    Esta é uma pergunta que muitos monteiros   colocarão.

    Porque normalmente as rezes rompem do mato para terra mais ou menos aberta, porque o tempo de reacção é muito escasso, porque o momento do tiro é apenas um,  há que fazer uma análise das condições em que se tem de atirar para que os resultados sejam o mais eficazes possível.

    O assunto não assenta em nenhuma técnica específica e vai depender muito das condições físicas e psicológicas de cada pessoa, no entanto é uma matéria que, se for explorada, poderá melhorar as atitudes de cada um para atingir os resultados desejados ou seja, conseguir que a bala vá impactar no local desejado.

    Tão pouco esta matéria constitui uma ciência (e se o fosse nunca seria exacta), mas tão somente um conjunto de procedimentos que cada um poderá seguir completa ou parcialmente conforme mais jeito lhe der.

    Comecemos então por descrever algumas situações que funcionam como condicionantes para a forma como se atira:

    A Arma:

   A arma a utilizar em montaria deverá ser uma carabina do calibre que mais agradar ao seu proprietário, e de qualquer sistema, mas quanto mais pesada melhor.  Porquê? Para evitar a tendência de "parar" a mão no momento que se puxa o gatilho. Igualmente deverá ser provida daquilo que se chama um gatilho "directo" ao  qual seja possível regular o curso (normalmente designado por folga) com segurança. As Armas com gatilho de cabelo são, para este efeito, desaconselhadas. Deverá igualmente ser provida de miras abertas (as que normalmente vêm de origem na arma) mas em que a alça seja suficientemente aberta (preferencialmente regulável em altura) para poder ter o ponto de mira perfeitamente alinhado logo que se mete à cara. Se se utilizar uma mira óptica esta deve ter um retículo apropriado para Montaria cujos traços sejam grossos e assim facilmente enquadráveis na imagem do alvo. No caso de ter que fazer algumas alterações para obter as condições referenciadas e não souber como, será recomendável recorrer aos serviços de uma armeiro explicando-lhe pormenorizadamente o que pretende.

                                  

Exemplos de Retículos mais utilizados para atirar em movimento segundo a designação técnica (da Esq. para a Direita) : Número 4;  Número 4 A;  Dot. A diferença entre os dois primeiros está no espaçamento central. Para Montaria melhor o 4 A.

    E a Óptica:

     Então também deveremos escolher o modelo de mira óptica mais adequado. E para este efeito recomenda-se igualmente uma mira de ampliações variáveis de potência baixa/média, como por exemplo 1 - 4  x 24  ou  1,5 - 6 x 42 .  1 - 4 significa mínimo de 1 ampliação (sem ampliação, logo imagem em tamanho real) e máximo de 4 ampliações (mais do que suficiente para as distâncias a que se atira em Montaria) e 24 é o diâmetro interno da lente frontal do óculo (Objectiva), medido em milímetros (sempre). Isto significaria que um animal que se encontrasse a 100 metros de distância e fosse observado com a mira em 4 aumentos seria visto como se estivesse apenas a 25 metros. As ampliações baixas permitem, por outro lado, abarcar um maior campo de visão através da imagem da mira.

   Pelo que acabei de referir já todos perceberam que a carabina de Montaria deve ser uma (a qual também poderá servir para caçar de espera) e a carabina para caçar de aproximação deverá ser outra distinta. No que se refere à segunda oportunamente se farão as necessárias recomendações.

    Sobre as condições de caça referenciadas no início desta página há que considerar os facto de as rezes romperem ao limpo quase sempre em situação de grande tensão e numa velocidade que normalmente anda entre 40 e os 50 km por hora, seja quando atravessam um aceiro, seja quando nos passam, perseguidas pelos cães, em terreno anexo ao nosso posto. Isto significa que o animal, na sua corrida irregular e incerta percorre cerca de 11 metros em 1 segundo (fácil de calcular : 40km = 40 000 metros; 1 Hora = 3 600 segundos; 40 000 :  3 600 = 11,11 metros). Depois o nosso tempo de reacção - que varia de pessoa para pessoa - anda aproximadamente entre 1/2 segundo e 3/4 de segundo, isto é o tempo que medeia entre o nosso cérebro decidir premir o gatilho, passar a informação ao sistema nervoso, este actuar sobre os músculos, fazer actuar o dedo e o tiro sair (não nos esqueçamos que ainda temos a considerar o tempo infinitesimal que a bala demora a percorrer o cano) é de cerca de 3/4 de segundo. Desprezamos o tempo de voo da bala porque, com velocidades médias dos projecteis na casa dos 800 metros por segundo, este pode demorar apenas 2 a 4 décimos de segundo a tingir o alvo.

    E neste infinitésimo espaço de tempo (repete-se que é o que medeia entre a decisão e a saída da bala) - 3/4 de segundo - o nosso animal percorreu (a cerca de 40 km/hora) qualquer coisa como 8 metros. Por isso frequentemente a bala bate depois do animal já "lá" ter passado.

    O momento de tiro é outra condicionante importante, porque estando nós em presença de qualquer atirador responsável consideramos que ele só atira quando o animal se encontra numa posição favorável - mais de atravessado, com a área vital destapada e já "entrado" no nosso campo de tiro.

    Se somarmos todos estes pressupostos, diria antes condicionantes, facilmente compreendemos que as variáveis da nossa equação inicial não só aumentaram como mais difícil se tornou determinar a sua solução. Verdade é que a prática, a rotina e a habituação à arma de alguma forma facilitam a nossa actuação.

    As imagens que a seguir apresentamos mostram-nos como se deve então, ou melhor, ONDE se deve então apontar a veados e javalis (considerando a velocidade referenciada) e às distâncias máximas de tiro em Montaria e Batida que, para os teóricos europeus desta matéria, não devem ultrapassar os 50 metros !!!

    As silhuetas a tracejado e à frente de cada animal representam o local onde o corpo deste estará quando a bala lá chega, partindo do princípio que se aponta sem qualquer desconto.

    O tiro a um Veado, a galope, atravessando um aceiro quase de salto, implicará sempre um desconto mais acentuado. Considerando que é necessário "correr" a mão, isto implica situar visualmente o retículo atrás da imagem do animal, começar a movimentar a mão acompanhando o seu movimento - sempre em forma rectilínea  - e disparar (puxar o gatilho) quando, visualmente o retículo se encontra cerca de 1,5 metros á frente do animal. Esta técnica é válida para as distâncias que rondem os 50 metros ( 40 a 60 metros)  e para atiradores que não parem a mão quando apontam. Se a distância for mais curta então o desconto deverá ser reduzido proporcionalmente.

    O mesmo do anterior mas agora a metade da distância e mantendo-se todas as condições mencionadas na imagem anterior. Como facilmente se compreende, apesar do exemplo apresentado ser o de um corso, o avanço (desconto) deverá agora ser metade do do exemplo anterior.

    No entanto se o animal se apresentar a trote ou a passo rápido então o avanço deverá ser mínimo situando o traço vertical do retículo sobre a linha  do extremo dianteiro do peito do animal.

    Quando o tiro é feito sobre javalis, as condições apresentadas alteram-se completamente pelo que os avanços a observar agora deverão ser mínimos continuando a considerar que o atirador não pára a mão. Este pormenor deve-se ao facto de o javali ter as patas bastante mais curtas e ainda porque, normalmente, quando chega a uma aceiro se pára para escutar eventuais perigos; quando arranca e se destapa, mesmo em fase de aceleração da corrida, a sua velocidade é sempre mais lenta que a de um veado. Além disso e mesmo que venha em corrida e perseguido pelos cães a sua velocidade é sempre inferior à dos cervídeos pelo que os avanços deverão manter-se inalterados.

    Depois destes pormenores esquemáticos passemos então a algumas imagens reais que comentaremos no que se refere à distância e provável velocidade dos animais. Nestas, o circulo branco é o local onde se deve apontar para que, dadas as condições de cada situação, a bala impacte no local assinalado pelo circulo vermelho. Por estas imagens podemos ainda perceber porque é que uns retículos são mais apropriados do que outros para caça de Montaria ou de Batida: aqui temos que ter um retículo que nos permita ver o máximo do animal e do campo de visão natural, porque se trata, sempre, de tiros muitos rápidos.

    Tiro a um Veado a galope, até 35 metros de distância. O avanço de verá ser de aproximadamente 1 metro á frente do animal, sempre sem parar a mão.

     Tiro a um Veado a trote, até 35 metros de distância. O avanço neste caso deverá ser apenas de 25/30 cm á frente do animal, continuando a partir do princípio que não se pára a mão.

     Tiro a um cervídeo lançado em grande galope, em terreno despejado e até 35 metros de distância. O avanço deverá ser, no mínimo, de 1 metro. Se entretanto a distância de tiro aumentar, então o avanço terá que aumentar proporcionalmente.

    Tiro a um cervídeo, a trote ou passo rápido e até 35 metros de distância. O avanço é agora mínimo, colocando o traço vertical do retículo sobre o bordo dianteiro do peito do animal. (a mesma referência anterior  e acima, para o tiro do javali no aceiro)

            

    Finalmente e se atentarmos agora nas duas imagens de tiro sobre javalis, a primeira a galope e até 40 metros, a segunda em grande corrida e até cerca de 30 metros, poderemos perceber que os avanços são muito idênticos e não ultrapassam os 20 cm à frente dele. O que vem reforçar o que foi anteriormente descrito para o tiro sobre este animal.

    Para concluirmos, resta-me notar ainda uma outra questão: se o atirador estiver bastante habituado a "correr" a mão então os avanços referenciados para cada situação deverão ser reduzidos; se por outro lado - como acontece com muitos atiradores - houver a tendência de parar a mão no momento do tiro então agora os avanços deverão ser aumentados.

    E... só a prática e experiência poderão corrigir maioritariamente os erros do tiro em movimento.

    Estas indicações mais não pretendem que alertar os atiradores de carabina menos experientes e ao mesmo tempo proporcionar-lhes uma ferramenta para que se possam aperceber porque erram e como erram os tiros.

    Como forma de treino mais eficaz o modelo que se recomenda é o de colocar um cartão ou pedaço de madeira (no qual se desenhou previamente um quadrado negro de 20 cm de lado) dentro de um pneu de diâmetro médio. Depois escolhemos - num local autorizado ou numa carreira de tiro - um terreno mediamente declivoso no qual  um companheiro o lança a rodar "ladeira abaixo" colocando-se o atirador transversalmente à linha de corrida do pneu. Depois e sempre com a máxima segurança em termos de onde podem as balas perder-se, ensaiar tiro a várias distâncias (25m, 50m e 75m) considerando sempre os avanços recomendados, que no caso deste tipo de treino devem ser os que se referenciaram para animais a passo rápido ou a trote.

    AAHHH ... E repararam que não é por acaso que todas as imagens dos exemplos apresentados mostram os animais de atravessado???

    Porque esta é a única forma viável de atirar com eficácia para matar e cobrar uma peça de caça maior. Então - dirão os leitores deste tema - e se o animal não vier de atravessado??

    Neste caso e se não tiverem  consciência de o poder atingir mortalmente então é preferível não atirar e deixarem o animal seguir em paz. É preferível isso a deixá-lo ferido no terreno, com poucas ou nenhumas hipóteses de cobro, num sofrimento atroz que a ninguém aproveita. Enquanto MONTEIROS (e não como atiradores) é imprescindível ter capacidade de decisão e respeitar os animais e a Natureza.

        Lembrem-se que Grande SENHOR será sempre aquele que respeita e decide responsavelmente os seus tiros enquanto os restantes ... ...

   E antes que me perguntem o que é que eu uso em Montaria, respondo já: Carabina semi automática BAR, calibre 30.06 com dois carregadores de 2 munições e um óculo TASCO Titan,  1,5 - 6 X 42  e retículo número  4A,  atirando quase sempre (até aos 100 metros) em 2 ampliações em terreno sujo ou em 3 ampliações em terreno limpo.

    E... Bons Tiros sem falhanços (agora já não têm desculpa...)

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